terça-feira, 18 de março de 2008

A Pedir. Soneto


Peço-te para que me escutes
sem ter que usar as palavras vazias
nenhuma delas me diz;
com efeito, todas me omitem.

Peço-te para que me abraces
sem ter de abrir os meus braços a ti;
ficar-me apenas pelo peso do corpo
deixado ao acaso na areia do solo.

Peço-te então que me beijes
sem esperar a sintonia dos lábios
e que me circundes o rosto cansado.

Peço-te porque hoje a ti me dirijo.
Não sei mais que pedir-te somente
afago para mais esta existência de protesto.

Ambíguo


Que me doí...como de entre dois espelhos
um não é permitido.
Sim, assim parece (e mais do que isso)
assim o é!
E eu sou aquilo que não sei se sou;
sou a inversão
a divisão egoísta da insanidade.
Dou como certo que aceito a pureza como perversa.
A liberdade está no voo que nunca dei
naquele salto a que nunca me aventurei.
Sugam-me pensamentos do nada irreal
ou imoral;
Do comportamento esperado e não desejado.
2001-06-01

sexta-feira, 14 de março de 2008

Abraço


Derradeiro é o momento
que se faz, que nos faz.
Um aprazível desejo
para te abraçar, envolver

Tal qual recolho uma nuvem,
nenúfar e
voar, voar!

Teu corpo é
peça mágica de um puzzle
no encaixe perfeito
da vida que toma sentido
á ordem racional do concreto.

Abraço-te.
De quando em quando
te dou a forma de um poema.

Abraço-te.
Tomo-te em mim, nas minhas mãos,
no meu corpo
que então,
não se torna mais meu
porque se funde no teu.

A pequena hora nostálgica da eterna noite


A pequena hora nostálgica da eterna noite
desceu, cresceu, eclodiu, venceu.
Abriu a porta de dentro
esta, de mim, por aqui;
do coração para a caneta
da melodia para o chão
solo firme, inerte, purgante.

Compasso ou moratória, é sempre de espera.
A transição da mágoa
do nascido, do morto, do projecto-fim.

Não faço parte do Deus que para mim existe.
A estrada menos percorrida.

Caçarei a minha alma fugida
saída por entre as frestas da incerteza e da culpa.
O poema que se faz
é sempre na pequena hora nostálgica da eterna noite.

Busco a estranheza da melancolia na sua essência;
faz-se batalha a procura de certezas
de uma pausa-equilíbrio
do vento que não fustigue.

Com graça sofreremos e recuperaremos
da graça com que lutamos num semi-corpo em definição
Múltiplos braços que seguram o hoje
o hoje da pequena hora nostálgica da eterna noite.

Bate como açoite
aquilo que deixamos a meio
na plena cinética das metas e da projecção.

A música dói na sua viagem memorial...
Peçamos uma consciência mais negligente;
não mais um amor mutante
desse que vem delicado, prazeroso, fértil
mas frágil.

Frágil em mais uma pequena hora nostálgica da eterna noite.

Adormeci na hipérbole da sensação.

sábado, 8 de março de 2008

Pausa

(...)as fugas dos comensais
nas vagas horas musicais;

o destino dos sons é não ter destino algum
que não eu;

e eu sou o delírio de não estar
aqui, além ou noutro lugar

segunda-feira, 3 de março de 2008

Fios Soltos. Conversas

miosotys: O amor é um lugar estranho.
armisén: Estranho sonho que tive esta noite...
miosotys: Noite, condensa medos, eleva anjos efémeros.
armisén: efémeros? que raio de palavra para começar uma frase.
miosotys: A frase que construo com palavras. E eu nunca foi um domador de palavras.Como Ruy Belo, sou domada por elas.
armisén:elas são mesmo assim, iguais a elas próprias.
miosotys: próprias e peculiares expressões. Expressão ao mundo.
armisén: que mundo? pergunto.
miosotys: "Eu não sou eu, nem sou outro. Sou qualquer coisa de intermédio. Pilar da ponte do tédio".
armisén: Tédio este que me invade e que tento sacudir.
miosotys: sacudir as energias negativas. Relaxar.
ármisen: liberta-te, solta-te, encontra-se...Revela o que sentes.
miosotys: Sentes tudo e de todas as maneiras?!