sábado, 21 de fevereiro de 2009

"(...)There´s a bird that nests inside you
sleeping underneath your skin
when you open up your wings to speak
I wish you´d let me in(..)"
murder of one
Counting Crows

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Serpentinas


Aproxima-se o carnaval. De há uns anos a esta parte que não lhe atribuo qualquer significado na minha vida, tão habituada estou a assistir a desfiles de máscaras. Hoje deu-me para escrever sobre quando eu gostava mesmo do carnaval. Era criança. Eramos crianças. Com alguma antecedência a mãe conseguia pedir emprestados fatos que eu e a minha irmã experimentávamos como se fosse roupa nova para estrear. Experimentavamos tudo até trajar aquele que enchia a nossa imaginação. Nesse dia eramos tudo. Piratas, bailarinas e palhaços. Era com alguma dor que tirávamos os fatos para vestir o pijama, tal a odisseia e o frenesim com que brincávamos envergando aqueles trajes. Uma das vezes até tirámos uma fotografia. E tivemos dinheiro para mandar revelar. Magnífico. Domingo era o grande dia. A mãe enchia-nos as pequenas faces com nivea para depois nos pintar. Tinhamos de ficar muito quietinhas para resultar. O que eu mais gostava era dos brilhantes coloridos que a mãe colocava com o seu dedo nas nossas maçãs do rosto. Ficávamos bonitas. Sentiamos nesses dias, uma beleza especial. Quando estavamos prontas, íamos de encontro ao meus primos, também eles sentindo-se uns cowboys segurando as suas pistolas de água. Uma vez a mãe tinha dinheiro e comprou-me uma pistola de água. Era cor de laranja. Era da cor que mais gosto. Era uma pistola. Fiquei deveras feliz. Os meus primos haviam conseguido uns trocos para balões de água, e enchiamos os bolsos com eles. Ás vezes rebentavam nos bolsos e nós riamos muito, nus de maldade.

O meu avó lá estava á nossa espera, para nos dar boleia até á cidade, para finalmente ver o carnaval. Entrávamos dentro do jipe verde, da GNR, pois ele era guarda - motorista. Entrávamos no centro da cidade e ele paráva junto ao quartel. Saiamos quase correndo, em direcção ás bilheteiras. Como eramos todos relativamente pequenos, entrávamos sempre sem pagar. E aí começava a nossa brincadeira. Era correr, lançar balões, e procurar o melhor sítio, onde desse para ver á nossa altura de meninos. Sabiamos que estava a começar quando ouviamos os tambores do grupo que abria o carnaval. Estou com dificuldade em lembrar-me do nome, mas hoje ao que sei já não existe no desfile. Lá vinham as meninas, segurando um artefacto de metal, lançando-o ao ar conforme as batidas dos tambores, todas alinhadas, nos seus trajes sempre iguais ao longo dos anos. Era o grupo que eu mais gostava. E sempre me imaginava a desfilar com elas. Só depois começava o corso carnavalesco. E nós assistiamos a tudo e riamos com as brincadeiras dos que tinham o privilégio de estar lá dentro da rua, a desfilar. E no fim, quando terminava, ansiavamos a passagem do rei e da rainha. Não que eles nos captassem a atenção por serem rei ou rainha, mas apenas porque, enquanto passavam, lançavam serpentinas. Era o delírio. Eram as nossas mãos a tentar agarrar quantas fossem possíveis. Eramos nós a saltar, junto com tantas outras crianças, por aqueles pedaços de papel colorido, enroladinhos. Uma vez consegui apanhar quatro! guardei nos bolsos até as pessoas irem desaparecendo rumo ás suas casas. Partilhavamos então os nossos troféus, a quantidade e as cores. E lançavamos as serpentinas, rolo por rolo, á altura dos nossos sonhos. e sorriamos.

Em todos os anos em que este ritual se repetiu, apenas uma vez me lembro de nos terem comprado um pacote de serpentinas. Deve ter sido quando a mãe tinha dinheiro. Hoje vi num hipermercado o preço de um pacote: 40 centimos. Será que alguem ainda corre atrás do rei e da rainha?

domingo, 1 de fevereiro de 2009


Sinto a falta do Sol. O sol torna-nos mais bem humorados, mais leves. A chuva antecipa a sensação de dias curtos. E dias curtos não chegam para aquela parte do ócio, que tanto prezo. Por isso não me lembro de ver um filme e encher-me de pipocas, nem de estar na esplanada a sentir a não obrigação.