sexta-feira, 18 de abril de 2008

do crescer


Ter o pensamento confundido;

saber o que tenho para viver

nos sonhos que não tive.

Perder-te.

e desejar sempre ter-te encontrado.

e saber que o lugar da não-distância

é o coração.

e saber que a vida é uma lua solarenga

uma noite apenas, sem pressa.

e saber que o que se grava cá dentro

não mais se aparta de nós.

e saber que te sei

e saber tudo isto e não querer saber.


e sentir-te na impossibilidade

de te abraçar

e sentir veludo e envolvimento.

e lembar...

sempre lembrar...

o poema, a viola, as cores

o céu daquela noite

o sorriso infantil e penetrante;

sempre o sorriso infantil e penetrante.


e jogar contigo

na música, na dança, nos olhos

elevar-me contigo

pensar-te,mexer-te, ficar-me.


Ficar-me pelo azul musical

ficar-me pela ilha sem mundo

ficar-me connosco.


connosco corre o tempo veloz

e sem ti o tempo lento e atroz.


que me ame.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Memória



Amar o perdido
Deixa confundido
Este coração.
Nada pode o olvido
Contra o sem sentido
Apelo do Não.
As coisas tangíveis
Tornam-se insensíveis
Á palma da mão.
Mas as coisas findas
Muito mais que lindas
Essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade

“Amo as horas sombrias do meu ser
Em que os meus sentidos se aprofundam.
Nelas encontrei,
Como em velhas cartas,
O meio dia já vivido
Ultrapassado e vasto como numa lenda.
Elas me ensinam que possuo espaço
Para uma intemporal segunda vida.

E por vezes sou como a árvore
Que, madura e rumorosa sobre uma campa
Cumpre o sonho que a criança de
Outrora (abraçada por suas cálidas raízes)
Perdeu em tristezas e canções”



Se estou
Sozinha na neve
É óbvio
Que sou um relógio.
De outro modo
Como poderia
A eternidade deslizar?”

Inger Christensen